A gente faz coisa errada para aprender.

Tem umas crianças que estão sempre desmontando, abrindo, quebrando brinquedos, tentando entender como o mecanismo funciona. Tipo o menino-vilão de Toy Story, o primeiro. No filme, sob o ponto de vista dos brinquedos, ele é cruel, perverso. 

Mas no mundo real, ele é só um tipo de personalidade infantil. E que frequentemente é tolhida por adultos, mais quadrados, ou que tiveram poucos brinquedos na infância. “Não puxe que se não vai quebrar o boneco. Não amasse a caixa, não rasgue aqui, etc.” Todo mundo já ouviu uma variação disso. E nem sempre a ordem adulta é algo assim tão positivo.

Lembro que o primeiro computador na minha casa era de uma marca, mas não lembro exatamente qual era. Vinha o pacote completo, incluido o kit multimídia. (Nota, o primeiro computador que eu usei. Nos anos 80, meu pai tinha acho que um CP 500 para trabalhar no escritório dele, mas eu criança só chegava perto para jogar um jogo de cavalinhos e com supervisão, porque aquilo era caríssimo. Aliás, nem sei se o computador era do meu pai ou do trabalho dele.)

Mas voltando ao primeiro computador, o de marca. Ele tinha essa besteira de fabricante bosta: não pode abrir pra não perder a garantia. E deve ter quebrado algumas vezes, e foi consertado por alguma assistência técnica. Mas alguns anos depois, quando eu já comecei a ganhar uns trocados e me meter a comprar um computador pra mim, lembro que a máquina vivia aberta, cheia de fios pra fora, as tomadas e plugues onde eu conectava e desconectava coisas.

Foi ali que eu aprendi como a máquina funciona. Desmontando e montando outra vez.

Ninguém aprende mecânica com o capô do carro fechado.

Nos últimos anos eu tenho aberto muitos capôs. É talvez uma vantagem do caminho profissional que escolhi, mas também é uma curiosidade infantil que eu só descobri numa adolescência tardia, deixei dormente por uns tempos e agora que não sou mais jovem estou revisitando.

Estou tentando fazer um raspberry pi – um computadorzinho do tamanho de um cartão de crédito e mais potente que aquele computador de marca que eu já falei – dentro de uma hello kitty de plástico da Piratinha. Ele vai controlar 3 leds, um relé e um auto-falante. Com isso, a boneca vai dançar, piscar, cantar e contar histórias. E sim, é conectado por wifi, pra gente escolher direito que áudio bota lá.

E por quê? Pra aprender. Pra saber como fazer a máquina controlar uma luz. Pra matar uma curiosidade.

Porque eu cuidava muito direitinho dos meus brinquedos quando era criança, nunca quebrei nada para ver como era dentro, e ninguém me explicou que eram somente alguns fios, um botão e uma caixa de pilhas.

Ou porque em alguma parte do meu cérebro aquela ideia surgiu e, em outra parte, um outro neurônio acendeu dizendo: “bora nessa, doido, que essa parada é legal.”

E por causa desses dois, o todo o resto da massa cinzenta vai sofrer.