A paranóia, ou a Loteria da Babilônia

Este post é uma viagem baseada no texto Loteria da Babilônia, de Borges, que eu li por causa deste post, do Alex Castro, que começou essa história por causa deste post do Idelber.

Na Babilônia, antigamente, todas as vidas e todas as pessoas eram influenciadas pela loteria. Começou apenas dando dinheiro, depois tomando, depois com penas não pecuniárias. Então, passou a ter milhares de resultados, desde promover alguém ao maior cargo possível no país até a retirada anual de um grão de areia da praia. Os resultados, como tudo em Borges, imprevisíveis e infinitos.

No fim do conto, o narrador sugere que a loteria pode não existir, que seja tudo obra do azar, e que a Companhia que rege a loteria não exista mais, mas mesmo assim as coisas da vida siguem sendo regidas pelo acaso. Chama as pessoas que têm essa crença de hereges. Não consegue conceber mais o mundo regido apenas pelo acaso, mas somente pelo acaso ativo gerado pela loteria. Alguém tem que jogar os dados, e os desígnios dos dados têm que ser cumpridos. Não é possível que o azar seja acaso, sem uma intenção por trás.

Isso me lembra os paranóicos que creem na Tríade Chinesa, no Grupo de Brandemburgo, nos velhos judeus que controlam o mundo, na Halliburton e no poder secreto da Microsoft. Não conseguem viver sem imaginar que, em algum lugar, existe alguém com todo o poder de influenciar milhões de pessoas com uma ordem, e líderes de uma hierarquia tão ampla, poderosa e únida que não pode falhar (a pesar de estar composta por humanos), e sem rivais conhecidos no mundo. Uma mescla de onipotência e onipresença.

A Loteria, que rege a vida dos humanos, ganha poder teológico, sobrenatural, divino. Bill Gates, quando lê os arquivos do computador de uma tia velha, procurando aquele email que ela mandou para a sobrinha com umas fotos do batizado do Pedrinho, e apaga as fotos cruelmente, tem algum interesse maligno. As fotos do bebê estão contra algum desígnio imperial da Corporação, de Deus, da Loteria.

Os babilônios, quando começaram a usar a sorte, inventaram a Deus.

0 Comments on “A paranóia, ou a Loteria da Babilônia”

  1. Achei o máximo a idéia da paranóia… no fim das contas, acabei me divertindo horrores com o texto.

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