Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro

Nós somos máquinas de recombinação do que já vimos. Nenhuma das palavras do meu texto é realmente original. Somente a recombinação dos vocábulos numa sequência diferente é que pode criar a ilusão do novo.

Os assuntos sobre os quais falamos também não costumam ser originais: políticos roubam desde a idade da pedra; as relações familiares doem desde o tempo dos neandertais; o tempo passa e nos oblitera há pelo menos 14 bilhões de anos.

A arte é uma pequena tentativa de encontrar algo diferente na experiência humana.

Dia desses, vi uma foto tirada por aquela sonda europeia que pousou em um cometa de nome estranho. Antes de apagar-se, aquele robô registrou a imagem de uma tempestade de neve a não sei quantos milhões de quilômetros. Provavelmente nenhum ser vivo nunca havia visto aquilo (claro, descartando a possibilidade de aliens). Ou seja, mais inédito do que qualquer outra coisa no nosso sistema solar.

Se um robô ou um bebê começam a aprender palavras e as suas regras de combinação, se um algoritmo ou um método ensinam a balancear originalidade, ineditismo e intenção, é possível que o objeto resultante seja visto como arte? Por enquanto, o nosso especismo considera que somente os humanos fazem arte (dia desses, juízes decretaram que macacos não possuem direitos autorais).

Até quando?

Robôs não possuem talento. Não possuem critério. Não possuem aquele je ne se quois. Instinto? Sensibilidade?

Há quem defenda que só os humanos possuem. Aliás, há alguns iluminados que defendem que só alguns humanos são capazes de fazer arte.

Outro ponto de vista é que nenhum bebê é capaz de compor uma sinfonia ou mesmo uma frase. É tudo aprendido.

E hoje em dia, as máquinas já aprendem muito mais rápido do que nós.

O caminho é acender uma vela para Sarah Connor.

* O título desta crônica é uma canção de Chico Science & Nação Zumbi