Idade vs. resistência a mudança

Artigo publicado no Jornal Contraponto, de João Pessoa-PB, em 2008.

Nos períodos jurássicos da propaganda (leia-se há uns 10 anos), o público era dividido por classe social e idade. Recebíamos pedidos como:  fazer um anúncio para públicos de classe A e B, com mais de 40 anos, urbano. Essa maneira de fazer as coisas morreu há algum tempo, quando as pessoas começaram a viver de maneiras diferentes.

Por exemplo, tenho amigos da mesma classe social e idade que eu, que vivemos nas mesmas cidades, que possuem celulares bem mais caros que o meu. Ou que possuem tênis bastante mais caros. Ou computadores 4 vezes mais baratos. Ou que se vestem de uma maneira extremamente diferente.

Uma questão bem interessante discutida atualmente nos US and A sobre propaganda é que como fazer propaganda para alguém com 50 anos. Ou com 60. Nos tempos de antigamente, era um anúncio de um vovô de cabelos brancos, feliz, numa foto de fundo azul e um texto bem sonso e genérico.

Hoje, a Madonna tem 50 anos. Pelé tem 60. Keith Richards, com todas as drogas que tomou, continua fumando maconha aos 70. Eles não são exemplos mais típicos, mas os vovôs dos anúncios de antigamente também não são.

Qual a diferença entre um empresário de 60 anos bem-sucedido que compra uma Mercedes Classe E, o que compra um Audi TT e o que compra um veleiro? O tipo clássico, o moderno, o high tech, o velho hippie? Todos eles vêm a vida do mesmo jeito, e querem as mesmas coisas?

Pouco tempo atrás, vi um Ministro de algum tribunal dizendo que quando ele era menino, maconha era coisa de “maloqueiro”. As aspas são porque foi a palavra que estava no jornal, não encaixa muito bem no meu vocabulário. Então, é de se esperar que a grande maioria das pessoas de bem da geração dele ache que maconha seja coisa de maloqueiro, 50 ou 60 anos depois da infância. Mas e os jovens de hoje, cujos heróis quase todos usam algum tipo de droga? O que acontece quando um hábito desses se torna mais ou menos institucionalizado?

Acontece, por exemplo, que hoje os velhos nos Estados Unidos foram os hippies dos anos 60. Por isso é difícil encontrar, na Califórnia, em San Francisco, alguém que seja tão completamente reácio às drogas.

Se utilizarmos o mesmo raciocínio para outros hábitos mais recomendáveis e dentro da lei? Quando eu, autor do texto, era pequeno, videogame era coisa para uns poucos jovens cujos pais tinham dinheiro e deixavam os filhos jogarem, com horários limitados, porque não se sabia os resultados disso na formação do caráter. Muita gente não permitia que os filhos jogassem. Atrofiava a visão. Viciava. Não deixava que fossem brincar na rua, ver o sol. Hoje, bem, não posso dizer que cresci com má índole. E deixaria uma criança jogar videogame sem problemas, jogos de acordo com sua idade e tal.

Posso garantir que haverá menos resistência a videogames, à tecnologia à medida que as pessoas que tiveram acesso à ela na infância crescerem, sempre de uma maneira exponencial. O problema é: quanto menos resistência às mudanças, mais diferença haverá entre as pessoas. Haverá o vovô jogador de videogame de 2050, que dividirá o seu Playstation versão 800 com os netos, mas dirá que bom mesmo era o Mario Kart do SuperNintendo, em 1991.

2 Comments on “Idade vs. resistência a mudança”

  1. Hoje em dia isso já acontece. Eu diria que boa parte dos jogadores de video game que conheço tem a minha idade.

    Desse jeito, em 2030 já teremos pessoas (moi même, provavelmente) jogando vídeo game com seus netinhos.

    (Tá, esse comentário foi só pra você perceber que não é bom de conta)

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