O pior tipo de problema é o problema de primeiro mundo

Você conhece o meme dos First World Problems. Aquele, da mulher chateada reclamando por algo extremamente banal, extremamente não-problema, porque não tem nada demais pra reclamar.

Agora você duvida de mim, mas logo no final do texto, vai ver que eu tenho alguma razão e, se calhar, vai ser capaz de acreditar que o chá nunca ser servido na temperatura ideal é um problema maior do que a fome no Sudão.

Veja só. Imagine que você é um sudanês. Está morrendo de fome. Reclama de fome, do governo, das injustiças do mundo. Passa o resto da sua vida reclamando. No fim das contas, você está certo. Você nasceu injustiçado. Deu azar na loteria da vida.

Agora imagine que você é um norte-estadounidense que tem um emprego desses de passar o dia inteiro movendo pixels de lá pra cá, tem seguro saúde e plano dentário pago pela empresa. E passa o resto da sua vida reclamando da temperatura do chá, do cara da Starbucks que errou o seu nome e escreveu Fira Temer, do Waze que está demorando para dar o endereço de casa, do cara do podcast que passa tempo demais fazendo propaganda do programa antes de começar a falar as coisas que você gosta. Você é a pessoa mais chata do mundo. Você tem alguma amargura na alma que não consegue resolver, que puxa pra baixo as energias das pessoas ao seu redor. Às vezes nem nota que estão tentando te ajudar, e reclama de reclamarem de você está reclamando (‘tá vendo, todo mundo reclama!’).

Tem gente mais inteligente do que eu estudando felicidade, comparando países, situações e pá e tal. Mas nessas horas, a teoria pouco importa. O que interessa na prática é que dá pra ser infeliz ganhando 250k ao ano. Ou não. Mas quem é infeliz porque não consegue encontrar uma meia que combine com o sapato merece morrer um pouquinho.

Lá em Pilões, onde nasceu toda a sabedoria do mundo, eu aprendi uma coisa: tudo que não pode ser resolvido com mais dinheiro ou mais porrada não é um problema. É um fato natural da vida.

Mas dizem que os inteligentes guias do mundo estão lá em NY, não no interior do Patropi.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.