Primeiro de abril

Artigo publicado em 2008 no Jornal Contraponto, de João Pessoa-PB.

Copiado da Folha de São Paulo, dia primeiro de abril:

“O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Marco Aurélio Mello, disse ontem que os candidatos nestas eleições que utilizarem a internet para fazer propaganda eleitoral irregular correm o risco de ser impedidos de concorrer por abuso na campanha.
Segundo o ministro, até mesmo quem alegar que a publicidade foi feita por outra pessoa e que ele não tem responsabilidade por ela poderá ser punido, a não ser que prove que a intenção era prejudicá-lo.”

Não é piada. A lei diz que a internet vai ser controlada, e que os candidatos são responsáveis pelas ações de qualquer usuário em seu favor.

Ninguém informou aos ministros do TSE que hoje é impossível controlar qualquer coisa na internet. Absolutamente nada.

A rede tem uma estrutura na qual a informação não se perde se uma parte é suprimida ou destruída. Lembremo-nos das origens militares. As grandes empresas de produção musica, como a Sony DMG, ou mesmo a poderosíssima RIAA não conseguem impedir o fluxo livre de músicas. Hollywood, que é provavelmente uma das organizações mais poderosas do mundo, não consegue impedir a pirataria dos filmes.

Vai o TSE, com decretos, impedir os fatos e impedir que as pessoas façam na próxima campanha o que é feito normalmente em qualquer país do mundo, que é o fluxo contínuo de informação?

Sinceramente, a metáfora que eu vejo é um grupo de beija-flores togados, tentando apagar um incêndio numa floresta. É bonito, até, mas é completamente ineficaz. Para nós, publicitários, a melhor propaganda possível na internet é chamada viral, que começa em algum ponto, e depois NUNCA mais pode ser abortada. Dê certo ou dê errado, interesse ou não, uma vez iniciada, não dá pra parar. É como acabar com uma fofoca ou um rumor.

Nos blogs, nos foros de debate online, o assunto chega aos limites da opinião. Já há sites importantíssimos no mundo comentando, e a discussão nunca é favorável às regras do TSE. É unânime entre as pessoas que vivem de internet, que trabalham e a entendem mais ou menos bem que a lei está aí, mas não vai funcionar. É impossível de ser fiscalizada, controlada ou observada.

Mas o Foro onde a discussão ocorreu, o distinto Tribunal, não escutou as vozes que vêm dos foros online. Se Ministro fosse, colocaria mais um parágrafo:

” – Fica proibida a candidatura e eleição de qualquer pessoa desonesta ou despreparada. Revoga-se todas as disposições em contrário.”

Não vai surtir nenhum efeito, nem placebo, mas pelo menos soa bonito.

Sou eu, brincando de beija-flor, jogando gasolina no incêndio.

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