Sobre tradução

A Juliana Cunha (jornalista baiana, salvação do jornalismo brasileiro, desde sempre) publicou dia desses uma maravilha de artigo chamada Sem mais regras: a nova leva de anglicismos que é feia de dar dó, disponível nos quatro cantos da internet, sobre a péssima qualidade das traduções que os brasileiros consomem, e levanta a bola de que isto se deve pelo parco conhecimento da última flor do Lácio. Eu acho difícil ler a Juliana sem concordar em situações normais, mas neste artigo ela se superou. Aliás, tenho cá minha teoria de que a maioria dos estudiosos de ciências sociais e principalmente de comunicação no Brasil escreve de forma bisonha e não entende nada devido à má tradução de escritores esquisitos como Foucault e Wittgenstein, mas tergiverso.

Bráulio Tavares (sem artigo no começo do nome, que na Paraíba isso é ofensa), que também anda pensando em traduções, máquinas e google, cravou por outro lado um artigo sobre um livro relativo à inteligência artificial e porque a tradução feita por máquinas fica tão capenga, chamado Os problemas da tradução automática, também disponível por aí, na Highway da Superinformação™.

Juntando os pontos dos dois, chega-se a uma questão parecida. As traduções ruins feitas por pessoas e as feitas por máquinas pecam no mesmo ponto: substituir trechos de palavras de um idioma pelo outro, evitando conhecer a fundo o conteúdo, por pressa, preguiça ou ignorância (no caso dos humanos) ou por incapacidade mesmo (no caso das máquinas).

Pessimista como sou, acredito que a tradução feita por máquinas ainda pode melhorar. Pode demorar um pouco, mas lentamente os algoritmos serão aprimorados e a máquina, cuja memória e capacidade de cálculo é infinitamente mais complexa que o cérebro, vai se aproximando cada vez mais da capacidade de um tradutor médio.

A tradução humana, entretanto, continuará demasiado humana.