310 malditas palavras

Posted by tarrask on January 23, 2014 · 2 mins read

Há uma historia pro mitologias que estou tentando acabar há tempos, e não consigo. Lembro de ter feito o primeiro rascunho da estrutura em julho ou agosto, num domingo à noite, conversando com uma amiga redatora. Agora que tenho muito tempo livro, estou adiantando várias delas, e esta, particularmente me está tirando o sono esta semana. Esta cena, simples e besta, durou 5 dias para ser parida. 310 malditas palavras. E saíram em menos de 15 minutos. Nem revisei nem nada, quero adiantar outras partes que nem pude começar, só porque queria fazer este pedaço antes.


Ela descia as ruas o mais rápido que podia, com um turbilhão de coisas passando pela cabeça. O coração batia, batia e batia. Queria escapar pela boca, queria ir mais rápido que ela, queria apressar as pernas, que já estavam em carreira desabalada, quase tropeçando nas pedrinhas irregulares do chão. Parou uma esquina antes para tomar ar. Não queria parecer desesperada.

Mas estava. E muito. Como um tigre caçando, a sua visão estava focada na curva da esquina. Tudo ao redor estava borrado, desfocado e sem cor. Não interessava, não importava, somente ali, adiante, onde estava aquele rapaz que, há alguns anos, levantara-na do chão com palavras doces e gestos quentes. O que iria acontecer? Será que conseguiriam voltar ao ponto onde haviam deixado tudo? Aquele ponto.

Uma conversa seca. Ele dissera que ia embora para a Europa. Ela engolia em seco o choro enquanto ele explicava que não poderiam mais continuar. Fazia mais força quando ele dizia que era impossível que se encontrassem outra vez, porque o mundo era grande, havia muitas pessoas, os caminhos eram complicados. As lágrimas corriam, sinceras e mornas, pelas bochechas, a boca tremia, ela escondia o rosto.

“Luanda, eu sempre vou amar você. Mas a gente não pode viver assim.”

Anos depois, as lágrimas voltaram ao seu rosto. Caiam com a lembrança, e eles estavam a ponto de reencontrar-se. Luanda enxugou a face, engoliu o choro e tentou disfarçar o que sentia. Ele não a veria chorar outra vez. Dele, queria felicidade ou nada. Nunca sofrimento. Eles iriam reencontrar-se, e agora seria eterno, para sempre. Não havia mais desculpas.

“O passado nunca vai voltar, mas pode se repetir de maneiras estranhas.” Era um ditado da sua terra. Logo, ele não poderia novamente ir embora para outro lugar distante, nem deixá-la. Ele estava ali, e ela havia vindo para encontrá-lo.