When I grow up I’ll be stable
When I grow up I’ll turn the tables
Trying hard to fit among you floating out to wonderland
Unprotected God I’m pregnant
Damn the consequences
Garbage, When I grow up
Não é raro ter intimidade de alma. É raríssimo.
Quando somos adolescentes, é fácil encontrar alguém que pareça conosco. Basta escutar a mesma música e ter as mesmas angústias. Um ou outro detalhe e pronto.
Depois de um tempo, começamos a notar as diferenças, e isso termina nos afastando das pessoas. Muita gente se afasta por causa disso. Alguns, depois de quatro ou cinco afastamentos, terminam cansando, e juntando-se a pessoas com as quais não têm intimidade, só pra não ficar solitários. Ficar só é muito foda. Cansa. Faz até o ar ficar pesado.
Faça o exercício. Observe casais que você conhece, e veja quantos estão juntos apesar das diferenças. Porque têm medo, preguiça, cansaço, abuso de procurar outra pessoa. Ela quer viajar o mundo, ele quer uma casa de campo. E há até casais que ficam 40 anos juntos por causa disso. Eu não consigo imaginar tortura maior.
Já ouvi falar que é difícil “let go”, deixar alguém que a gente gosta ir embora. Eu acho super fácil, porque penso que deve ser horrível viver comigo sem querer, ou vice-versa. Simplesmente não dá.
Pessoalmente, eu nunca encontrei ninguém que encaixasse comigo. Dizendo assim, 100%, nem em sonho. Hoje, acho que estou o mais distante possível de sonhar em encontrar alguém em que pudesse ver uma intimidade dessas. No passado, provavelmente, quanto mais jovem, mais semelhante. A medida que envelheci, cada nova namorada, cada pessoa que conheço, é mais distante, devido às diferentes experiências. Às vezes chego a invejar gente que viveu a vida inteira com a mesma pessoa e tem um cúmplice.
Mas também não era isso que eu queria ter na vida. Não quero encontrar ninguém igual a mim, e também acho que há atração entre opostos, porque somos movidos por curiosidade e novidade. Gosto de conhecer novos pontos de vista e tentar entender a cabeça de outras pessoas (afinal, se não gostasse, para quê serviria estes emails que a gente troca?).
Por falar em entender, eu acredito em aprendizado. Uma amiga dizia uma frase assim: “não tenha ciúmes das minhas relações passadas, foram elas que me formaram”. Tenho certeza que sou quem sou por causa delas, as que foram e as que não foram. A gente vai aprendendo, crescendo e caminhando, em direção a algum objetivo. Qual é o seu, aí é que são elas, e é aí onde está a beleza da vida.
Eu fico com a beleza da resposta das crianças
É a vida, é bonita e é bonita
Gonzaguinha, O que é, o que é
Viver é foda. Viver é uma merda. Lembro que a primeira frase que eu escrevi, que saiu da minha cabeça, e eu lembro de memória (não era título, eu tinha 15 anos e estava bêbado) foi “a vida é uma grandeza escalar, não tem direção nem sentido”.
Pensando retrospectivamente, gosto pra caralho. Porque é uma grandeza. Pode ser medida, no sentido de dizer que você teve uma grande ou uma pequena vida. E são as experiências que somam. Tanto as boas quanto as ruins. A única coisa que subtrai é a falta de experiência. A repetição. O marasmo, o tédio.
Algumas pessoas ficaram engasgadas. Presas, enguiçadas. Fazem sempre a mesma coisa. Vão pro trabalho às mesmas horas. Repetem aos 50 as viagens que fizeram aos 20, do mesmo jeito. Eu não quero acampar na praia pra ir a um festival de rock e comer mal aos 35. Quero, aos 35, ir pra zona vip e conversar com a galera do palco. Ou sobrevoar de helicóptero, mas quero viver sempre experiências diferentes.
Quando você diz que ele tem uma cabeça pequena, provavelmente se refere a isso. Encontrou umas coisas que o dão prazer, e vai repeti-las, como um autômato, pro resto da vida, ou por muito e muito tempo. E você, obviamente, se entediará ao seu lado.
Pior? Melhor? Isso a gente não pode medir. Mas, se você quer uma companhia de longo prazo, deveria encontrar alguém que tenha o seu ritmo, e queira lhe acompanhar.
Também é bom pensar que os ritmos não são constantes. Há horas que você precisa parar, ir mais devagar. (eu já disse que viver cansa?). Não sei se você sabe a sensação de estar com alguém que é demais pra você. Tipo, alguém que, com um beijo, te dá vertigem, medo de cair, de estar indo rápido demais, de acelerar um fórmula 1 a 300 km/h e seja o que deus quiser, porque eu vou me quebrar todo no final. Eu já fiz isso, e, por saber que ia me quebrar todo no final, foi uma das coisas mais mágicas que já vivi. Ao mesmo tempo, há relações que são um pit-stop, era descansar, tomar fôlego, livra-me das cãimbras (uff, ¿como escreve?). Ou as relações que são simplesmente passeios: uma relação que sabemos que não dura muito, mas que faz bem aos dois. Coloque aí, friends-with-benefits, amigos que se comem, ficantes frequentes e outras (desde que nenhum dos dois queira foder o outro, só foder com o outro). Na adolescência, a gente chama isso ficar.
A minha opinião pessoal sobre você (olha, qualquer coisa que comece assim obrigatoriamente está completamente errada, só você pode ter opiniões interessantes sobre você) é que, depois de uma grande corrida, um grande esforço, é legal diminuir o ritmo, entender melhor a força das suas pernas, seus tendões e músculos cardíacos, antes de enfrentar outra corrida. Por isso não é recomendável que você encontre AGORA o cara que vai te acompanhar durante todo o caminho da sua vida. Acho que você deveria se conhecer um pouco mais antes disso.
E sempre olhando a paisagem.
Afinal, estamos na vida a passeio.
xeros múltiplos e esperando a sua resposta