Deixa o verão pra mais tarde

Posted by tarrask on December 23, 2009 · 5 mins read

For life is quite absurd And death’s the final word You must always face the curtain with a bow. Forget about your singive the audience a grin Enjoy it - it’s your last chance anyhow. So always look on the bright side of death

ust before you draw your terminal breath Life’s a piece of shit When you look at it Life’s a laugh and death’s a joke, it’s true. You’ll see it’s all a show Keep ‘em laughing as you go Just remember that the last laugh is on you. And always look on the bright side of life

Always look on the right side of life. ** Monty Python’s Eric Idle, always look at the bright side of life**

Este é o inverno mais frio do qual se tem notícia. Começou ontem. Aí onde você está, longe, muito longe, ia começar um verão escaldante. Um verão desses onde brotam amores por todos os lados, onde as pessoas nunca têm tempo para ver pequenos detalhes da vida, porque estão ocupadas demais vivendo. Mas não vai começar, meu amor. Este ano não tem verão. Pra quê?

Foi adiado. Cancelado. Encerrado. Enviado pra Sibéria.

Vou ficar aqui, no frio, tentando congelar sentimentos. Ou derretendo de calor por dentro, porque sinto uma falta sem tamanho só de coisas boas. Não foi um ano bom por muitas coisas, foi um ano de quedas, esbarrões, trombadas, brigas e perdas. Doze meses que se despetalaram como um temporal de verão.

Eu queria estar do seu lado por mais tempo. Queria só estar, sem nada mais, sem dizer, sem falar, sem fazer nada. Porque era assim que você demonstrava que gostava de alguém: estando. Desculpe a obviedade, as palavras comuns, mas você também tinha um vocabulário curto, e também iria me perdoar. Até porque as nossas conversas eram feitas com olhares e companhias em noites silenciosas.

Há algumas coisas que nos deixam mais fortes. Acreditar que, a qualquer hora, eu teria um lugar ao seu lado, em silêncio, era uma delas. Saber que você estaria ali, naquela cama, dormindo e sonhando com aquelas tardes inúteis, tão felizes e macias. Lembrar daquelas horas simples, de companhia e paz. Outro dia, li que amar de verdade é estar com alguém com quem podemos ficar em silêncio sem estarmos constrangidos. Quantos anos ficamos juntos, sem dizer nada, só vendo o tempo passar?

Queria poder acreditar que o amor vence tudo, que vai durar pra sempre, que seremos imortais e felizes por toda a eternidade. Mas não. Ele só dura o tempo de umas risadas. Depois acaba, ou o amor (o que não foi o nosso caso) ou o nosso tempo juntos. Fecharam a cortina, e você terminou seu espetáculo.

Você sabia que não iria durar para sempre, tanto que fazia birra quando se sentia ignorada. Queria viver o agora, não o futuro. Virava as costas e fazia juras de ódio eterno, que duravam somente até eu pedir desculpas e te dar o carinho merecido e sonegado pela distância. Pra você, o presente sempre era mais importante que o futuro e o passado. Engraçado, diziam que o racional era eu, mas você era a inteligente. Agora, eu fico com o que aconteceu, para lembrar, entender e não poder fazer nada a respeito.

O triste é saber que eu não posso fazer birra pra te convencer a voltar. Então eu vou fingir que você está comigo e fingir que sou forte.

Acredito que só podemos amar gatos e pessoas. Ou seja, só podemos amar quem é livre para dar e deixar de dar amor. Precisamos conquistar, convencer, entregar e receber. Você foi livre e só amou quem quis. Me sinto honrado de ter sido uma dessas pessoas. Obrigado.

Juro, juro, juro que, se fosse pra você continuar viva, eu aguentaria até viver um 2009 pra sempre. Mas a vida, infelizmente, continua quando a morte chega. E graças a você, a minha é muito melhor, e também muito pior.

Adeus, minha querida. Tenha sonhos maravilhosos.

Linda Maria McCartney

  • 15-11-1991 / † 21/12/2009