Mau-humor matinal

Posted by tarrask on December 27, 2013 · 2 mins read

Às vezes eu imagino que sou a última pessoa na Terra. Fico olhando pela janela, vendo casas, mas nenhuma alma viva. Há uma montanha, edifícios, plantas. Um silêncio daqueles que incomodam pessoas normais.

Dentro da minha cabeça, diálogos.

Silêncio lá fora, máquinas seguindo seus caminhos. Pessoas-robô abrem lojas, compram pão, limpam, sujam e seguem rotinas. Computadores controlam a simulação de realidade pós-apocalíptica em que vivo. Criam animais fictícios, software de falsos random, bobagens sem poesia, mas que fazem o coração de metal do mundo continuar girando.

Eu fico imaginando o porquê de só eu conseguir entender isso. Imagino que poderia descrever uma série de raciocínios em palavras, e penso que mais tarde vou anotar aquilo, para que quando os zumbis e os alienígenas chegarem, eu possa explicar-lhes porque a vida na Terra acabou, e porque eu acho isso tudo tão merecido.

O meu telefone sem uso não recebe mensagens com conteúdo há séculos, apesar de estar conectado de mil maneiras diferentes aos mil universos paralelos nos quais um dia houve vida humana. Lembro da hora em que tudo foi extinto, lembro de ter quase sentido pena, mas depois ter achado graça.

Meu café vai me acordando devagar. Eu penso em coisas que poderia escrever. Sonho coisas que nunca serão reais. Imagino cartas que nunca chegarão de pessoas que estão presas em passados alternativos. Invento uma vida que não tenho, pessoas que não são, histórias que não começam nem acabam. Poucos momentos nos quais as coisas acontecem como eu gostaria.

Aí você chega, me dá bom-dia, me solta dez minutos de linguagem fática e estraga tudo.

Prefiro escutar as conversas idiotas que passam dentro da minha cabeça. Desculpe-me. É por isso que eu mereço estar sozinho.