Vertigens

Posted by tarrask on September 11, 2008 · 1 min read

Ele só se sentia plenamente feliz quando tinha vertigens. Encontrou um apartamento com um parapeito imenso, e ficava horas sentado, lendo ou observando a cidade na sua frente. Percorria a linha do horizonte com os olhos, os quilômetros de concreto, asfalto, metal e vidro que transformavam a face da Terra em um lugar mais humano. Morria de medo, mas adorava a sensação ferver o sangue e apertar o estômago. Adorava, lá de cima, ver as pessoas passando apressadas, indo caminhar às cinco da manhã, comprar pão no fim da tarde, as crianças chegando da escola, os pais sempre apressados. Também adorava elevadores panorâmicos. Colava no vidro, olhava como criança para baixo, sentia um calafrio e sorria. Sempre ia ao mesmo médico, num empresarial de mais de vinte andares com elevador de vidro. Já chegava branco à consulta, e com a adrenalina disparada. Sonhava em morar num arranha-céus. Sentia, quando olhava fixamente o chão do alto de um prédio, como se a terra o chamasse, como se houvesse um imã o puxando e sussurrando seu nome. Deixava a cabeça cair um pouco, e se segurava. E, quando se afastava, sempre pensava que daquela vez tinha escapado por pouco.