Brasil e Porto Rico, a mesma solução para tragédias completamente diferentes

Porto Rico é uma ilha caribenha associada aos Estados Unidos, cuja população hoje sofre as consequências calamitosas de dois furacões de categoria 5. Algo que normalmente ocorria a cada duas gerações ocorreu duas vezes em uma semana. É como se a Grande Seca de 1877-78 do Nordeste acontecesse duas vezes no mesmo ano, ou que durasse uma década inteira.

Depois de Irma e Maria, pouquíssima gente tem eletricidade 24 horas por dia em casa, o abastecimento de combustível é problemático e a reconstrução vai demorar mais que a recuperação da Ética no Congresso Nacional. Hoje, levas de migrantes deixam a ilha para viver na Flórida, Boston e Nova Iorque, as maiores comunidades, em busca de uma vida melhor. As pessoas simplesmente precisam continuar a viver as suas vidas, estudar, trabalhar, viajar, com um mínimo de estrutura. No estado atual da ilha, ninguém consegue planejar 3, 4 anos no futuro.

Alguns quilômetros ao sul, o Brasil tem problemas completamente diferentes, mas o resultado é bem parecido. Ninguém sabe qual vai ser a taxa de juros daqui a 10 anos. Só doidos sabem onde realmente vale a pena investir. Raios, uma lista de presidenciáveis pode incluir 20 nomes diferentes, e nenhum deles parece ser favorito (ou qualificado, diga-se de passagem).

Quem mora no estrangeiro possui um medidor estranho da temperatura do país: a QPPIE (Quantidade de Pessoas Pedindo Informação sobre Emigração). Houve épocas em que o mais comum era conhecidos querendo saber como estudar fora, fazer intercâmbio. Melhorar a qualificação profissional, fazer doutorado, coisas assim. Teve um tempo em que era moda (viva a novela da Globo) entrar ilegal em qualquer país em busca de uma vida melhor. Nos anos em que se achava que o Brasil estava decolando e ia virar superpotência, tinha muita gente que queria sair do país pra ter experiência internacional, aprender novas técnicas para voltar e investir ou trabalhar em grandes multinacionais.

Hoje, além do QPPIE ser muito maior, os objetivos são diferentes. O clima de salve-se quem puder é mais forte do que nunca foi (eu não lembro da época do Sarney, e não era tão fácil viajar nos anos 80 como é hoje). Já perdi as contas de quantas pessoas nem perguntam, mas dizem que vão embora de qualquer jeito, só falta descobrir como. Gente com casa, carro, filhos, rede de contatos e até concurso público estável, todos querendo ir embora.

Se a existência de uma nova leva de retirantes modernos não parte o coração de um nordestino, nada mais o fará.