A fome, a fama e a fomo

A principal função das redes sociais é trazer à nossa atenção tudo o que ocorre além da nossa existência física. Tá, acho que compliquei bastante. Vamos simplificar então.

Com o telefone desligado, você consegue lembrar de quantos vídeos que quer ver? Quantas aulas interessantes ou palestras de pessoas motivadas? Quantos textos bem-articulados sobre quaisquer que seja o assunto do momento? Pois é. Basta abrir um feed qualquer e bam!, tome cinco mil textos. Que se multiplicam como gremlins num parque aquático.

Até bem pouco tempo atrás, o conflito humano era físico: lutava-se por comida, por recursos básicos de alimentação. Éramos caçadores, agricultores, soldados.

Maslow e sua pirâmide apontaram um caminho estranho: após certa conquista da agricultura, transgênicos et caterva, boa parte da civilização ocidental superou este conflito. No século XX, o mal-estar era causado pelo reconhecimento do próximo, o status, os títulos, a idade do ego. Andy Warhol profetizou os 15 minutos de fama, agora em formato Youtuber. As celebridades, os artistas, os gênios e os talentosos. Todos misturados. E são muitos.

E nós, todos também espectadores, perdidos. Sem saber a quem dar atenção, porque esta sempre será finita. Tememos perder tempo lendo um livro inútil, mas continuamos a sofrer obrigados a ler Os Maias ou assistir Carlota Joaquina porque são clássicos. Há mais, há muito mais coisas boas, más e piores. E continuamos a criar cada vez mais. Criamos mundos dentro de mundos. Há milhares de especialistas na antropologia de Westeros, na gramática Quenya.

Pode ser até que a gente consiga algum dia superar a ansiedade de consumir informação que a conectividade global nos traz. Mas a humanidade sempre vai conseguir arranjar outro tipo de sarna para se coçar.