O homem medido

Daqui a alguns meses, vocês vão ver centenas de milhares de textos sobre pessoas chocadas consigo mesmas, quando começarem a entender melhor sua relação com a tecnologia.

Como? Há poucos dias, a Apple anunciou um app chamado Screen Time, que vai dar um relatório do seu uso do celular. Provavelmente não vai mudar muita coisa, porque as pessoas são especialistas em se auto-enganarem, mas vai chocar bastante.

Alguns anos atrás, fiz uma experiência parecida, com um programinha que se instala no computador, somente durante as horas de trabalho, para tentar medir a minha produtividade. Os resultados foram estranhíssimos: eu passava relativamente pouquíssimo tempo com a minha (em teoria) principal ferramenta, o editor de texto. A maior parte do tempo, a minha atenção estava em programas como o navegador da internet (em diferentes sites, que podem ou não incluir dicionários, tradutores automáticos ou sites de pesquisa), o programa de email, ou simplesmente não estava usando o computador, durante uma reunião.

Só que hoje em dia, o celular é ubíquo: praticamente todo o tempo acordado, ele está acompanhando a nossa atenção, e raramente passamos mais de 5 minutos fazendo algo que não envolva alguma espécie de software.

Este salto que o Screen Time da Apple faz é interessante por uma razão: pode ser capaz de analisar um ecossistema: meu telefone, meu tablet em casa, meu computador no trabalho. Praticamente toda a minha vida acordado e não necessariamente prestando atenção.

É o medidor de produtividade dos sonhos de qualquer profissional de recursos humanos, e o pesadelo de qualquer psicanalista. Será que o Dorian Grey da nossa atenção vai realmente gostar do que verá?