Observadores de marés são péssimos surfistas

A imaginação de algumas pessoas permite um efeito zoom em alguns fenômenos. Algumas pessoas conseguem abstrair, por exemplo, os efeitos das criptomoedas na economia, enquanto outras entendem os efeitos tectônicos que o uso da inteligência artificial vai causar nas providências sociais, enquanto que outras pessoas, mais próximas de fenômenos, observam o detalhe, o microssegundo em que o S&P despenca ou a direção da bola na hora do pênalti.

Essa capacidade de ver micros e macros, de identificar em que ponto de vista se está observando um assunto pode levar dois especialistas em um assunto a uma conversa de bêbados. Um fala que a maré está subindo enquanto outro está preocupado com a hora exata de remar para surfar a onda. Ambos falam do mesmo mar, mesma praia, mesmo clima, objetivos completamente diferentes.

Este pequeno insight esquisito nasceu quando eu estava a pensar na questão de planejamento de carreira profissional. Às vezes uma pessoa, ao escolher um curso, pensa na situação atual do mercado, nas suas aptidões atuais, e esquece completamente quanto as correntes marítimas vão mudar durante uma vida laboral. Outras pessoas ignoram os instantes, os momentos ínfimos que possuem a capacidade fulcral de câmbio: se eu tivesse chegado 5 minutos antes naquela festa, teria conhecido o Mark Zuckerberg, se eu não tivesse pedido demissão daquela empresa, seis meses depois teria ficado milionário com stock options, se tivesse escutado um pouco mais as ideias do Gui, talvez tivesse comprado uns 20 bitcoins pelo dinheiro da cerveja do fim de semana.

Com certeza, você consegue encontrar exemplos desta metáfora na sua profissão, na sua carreira. Agora, o difícil mesmo é aprender a olhar as coisas com a lupa ou com o binóculo, e saber qual é o mais apropriado para cada situação.