Somos todos ascensoristas

Cá pra nós, a profissão do ascensorista é bastante desprestigiada. A razão é dupla: primeiro, que praticamente qualquer pessoa alfabetizada (com a augusta exceção de algumas autoridades em edifícios públicos) é capaz de apertar os seus botões. A segunda é que, devido à primeira razão listada, a profissão de apertador de botões de elevador está caminhando à extinção em passos largos.

Não é somente este profissional que se extingue: os condutores de tílburis já são figuras dos livros de M. de Assis, os transportadores d’água em lombo de burro só existem no sertão profundo e os datilógrafos de tribunais já estão partindo desta para melhor.

Tecnologia e bom-senso estão eliminando profissões. Algumas destas categorias (e principalmente sindicatos) estrebucham e faniquitam na hora da agonia, mas até agora, não há na história nenhum caso de alguém que tenha vencido a Morte na base do grito.

Taxista, funcionário público fotocopiador de papéis, gente cuja função é mandar o cidadão falar com outra pessoa que não está agora na repartição, assistentes, secretários, aspones, fiscais, vigilantes, asseguradores, conferidores, diagnosticadores, difusores de informação, professores, artistas. Raios, já existem bordéis nos quais as prostitutas já foram substituídas por máquinas.

Há poucos, pouquíssimos, campos nos quais não há pesquisas bastante produtivas para substituir o ser humano. O meu já foi inventado há algum tempo, e só estou esperando o preço das máquinas baixar mais um pouco para dar lugar a um algoritmo.

Estou esquentando a cadeira, jogando na prorrogação em que perco de goleada.

Se você acha que é insubstituível, ou está mal informado ou realmente faz algo especialmente único. Mas único mesmo. Tão único que provavelmente não é uma profissão, assim com nome, definição de cargo e salário médio.

A razão pela qual Excelências ainda possuem trabalho e ascensoristas é a mesma: ego e apego à tradição. Daqui a pouco ambos serão trocados por robôs, e praticamente ninguém vai notar a diferença.